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Meu relato sobre amamentação - Parte 2

Quando engravidei dos meninos, estava decidida a me doar por inteiro em relação à amamentação e superar a frustração vivida com a Sarah. Mas no segundo ultrassom, quando descobri que eram gêmeos, senti um balde de água fria cair sobre estes planos. Se não consegui amamentar uma, como conseguiria amamentar dois?

Comecei a buscar informações e me deparei com vários exemplos de sucesso de mães que amamentaram gêmeos exclusivamente. Isso me encheu de esperanças. Esperanças essas que tentei não deixar contaminar com as frases que ouvia sempre que esse assunto vinha à tona: "mas quem consegue amamentar dois?" "nossa, menino é muito guloso! Não tem como ficar só no peito" e por aí vai.

Pesquisei, pesquisei e contatei uma consultora em amamentação e começamos a conversar desde a 32ª semana de gestação. Queria apoio, caso necessário, para superar qualquer barreira.

Então, o meu check list da amamentação estava completo, pensava eu:

- Informação

- Apoio

- Capacidade e vontade de me doar


Minha bolsa rompeu quando eu estava com 36 semanas e 4 dias, às 5h da manhã e os meninos nasceram às 9h. Ter entrado em trabalho de parto, ainda que tenha feito uma cesárea, foi importante e me deu muita segurança, pois tive colostro e os meninos mamaram na primeira hora de vida.

(Uma pausa aqui para explicar que a Sarah nasceu de uma cesárea eletiva e agendada - não estamos aqui para discutir ou julgar essa escolha, ok? - com 39 semanas e o colostro levou algumas horas para descer.)


Na sala de recuperação, eles mamaram várias vezes. Pouco depois, o Henrique foi encaminhado ao CTI, onde ficaria alguns dias para ganhar peso, por ter nascido com menos de 2kg e o Miguel seguiu comigo para o quarto, ambos com a prescrição para o uso de leite artificial complementar ao leite materno, em função da taxa de glicemia baixar com rapidez.

O Miguel, já estava exclusivo no peito no terceiro dia de vida e o Henrique ainda tentava aprender a mamar, caminhando a passos muito lentos. Eles eram pesados diariamente e o ganho de peso do Miguel ia bem até o dia que o Henrique começou a mamar de verdade.



Com o aumento da demanda e o tempo que meu corpo precisava para se adaptar, o Miguel passou a perder ou não ganhar nada de peso nos dias seguintes (o que hoje sei que é normal, pois era um processo de adaptação e com o tempo isso, provavelmente, se regularia), o que trouxe nova recomendação de complementação com leite artificial, ainda na maternidade.

Ficamos ao todo oito dias internados. Nesse período, tive muito apoio e recebi muitas orientações das técnicas em enfermagem em relação à amamentação, mas saímos com a orientação dos pediatras de complementar com leite artificial no copinho, sempre que necessário.

Em casa, amamentei muito e complementei o mínimo. Mas me prendi a tal das "três em três horas" (erro 1). Até porque eles dormiam tanto que só acordavam quando eu os tirava do berço para trocar fralda e mamar.

Quando voltamos ao banco de leite para pesá-los e vimos que ganharam apenas 10g por dia, mais uma recomendação de complementação, mas agora em todas as mamadas e assim o fiz (erro 2). Hoje, não teria feito. Teria esperado mais tempo. Eles ainda eram pequenos, ainda demoravam para pegar o peito e com isso perdiam muita energia. Mas naquele momento, o medo de poder prejudicá-los por serem tão pequenos, não me fez questionar a recomendação.

Foram mais alguns dias de longas mamadas e complementação no copinho. E preciso registrar aqui o apoio e a parceria do meu marido nesse momento (e na época da Sarah também). Ele mergulhou comigo nas nossas duas experiências e se, ainda assim foram momentos difíceis, sem ele, teriam sido impossíveis.

Até que pedi auxílio à consultora em amamentação, para ver se poderia fazer algo diferente, como poderia ajudar os bebês a pegarem o peito mais facilmente, pois eram muitos minutos de tentativa até que conseguissem e isso era muito estressante.

Além de várias orientações, ela me sugeriu complementar via sonda, fazendo a translactação. Abandonamos o copinho e fomos para a sondinha (erro 3). Mal sabia eu que isso é recomendado quando a mãe não tem leite ou tem pouco, mas que deve ser usado por um tempo curto, pois a sonda gera um fluxo contínuo, o que não ocorre com o seio materno. Então o bebê se acostuma com o fluxo e "reclama" quando há uma pausa no seio. (E eu que achava que tinha me munido de informações suficientes)

E assim seguimos, abandonamos o copinho (que era dado pelo meu marido e me dava alguns minutos de descanso) e passamos para a sondinha, que fazia com que o tempo deles no seio aumentasse. Nessa época (eles tinham uns 15 dias), eu não tinha segurança para colocá-los juntos para mamar e com a sondinha, isso era uma tarefa impossível. Então eu ficava mais tempo com eles mamando do que fazendo qualquer outra coisa no dia. Era exaustivo, mas eu queria que desse certo!

Às vezes acordava tão cansada que já queria que o dia terminasse, pois sabia exatamente como seria minha rotina e me sentia literalmente sugada. Mas eu estava preparada para me doar, só queria que desse certo.

Uma noite, no auge da exaustão e sem saber sobre a hora da bruxa (horário no início da noite quando muitos bebês ficam extremamente irritados e choram sem motivo aparente), vendo os dois chorarem muito, me rendi e fiz uma mamadeira para cada. Tomaram e dormiram. Ufa! Alívio! E como foi rápido e fácil.

E assim, ao longo dos dois e meio primeiros meses passamos pelo copinho, sondinha, mamadeira e eu me acomodei nela. Eles mamavam (nessa época já conseguia colocar os dois ao mesmo tempo) e depois tomavam o complemento.

Um dia, percebi que meu leite tinha diminuído. Já estava ficando sozinha com eles e quando os dois choravam e eu não conseguia colocá-los sozinha no peito, um ia para a mamadeira e o outro mamava e depois eu trocava.

Em uma ocasião, o Miguel chorou muito e não quis mamar. Entrei em pânico! Ele iria largar o peito como a Sarah fez aos seis meses.

Nessa época, eu já fazia parte de um grupo no Facebook chamado "Falando sobre amamentação gemelar" e lia relatos de mães que em determinado momento tiraram o complemento, mamadeira, chupeta e com algum tempo conseguiram amamentar exclusivamente. Mas à base de dias e dias com os bebês "plugados" no peito. Pedi ajuda e fui muito bem acolhida no grupo e a receita estava dada. Era assim ou não teria sucesso.

Com medo de que os meninos abandonassem de vez a amamentação, resolvi tentar. Tirei qualquer bico e leite artificial e fiquei, literalmente, com eles conectados a mim por três dias. Sentia uma dor de cabeça insuportável e uma fraqueza enorme. Mas queria tentar! No quarto dia, caí de cama. Dor de garganta, moleza no corpo e muita dor de cabeça. Sucumbi. E precisei da mamadeira de volta (já não conseguia mais imaginar voltar para o copinho ou sondinha).

Nesse dia eu me perguntei por que eu queria tanto aquilo? Para me provar que conseguia? Para me perdoar pelo insucesso com a Sarah? E a resposta veio em forma de aceitação da minha realidade. De repente, passei a ver que amamentar e complementar não representavam um fracasso. Eu amamentava dois! Eu me doava horas por dia. Eles estavam saudáveis e ganhando peso. Eu era uma vitoriosa sim! Realizei que a palavra "exclusivamente" que tanto me martirizava não precisava ser um fantasma nessa história e passei a valorizar o "amamentar". Nesse dia, eu me perdoei e me aceitei. Aceitei a minha (a nossa) história!

Os meninos completaram quatro meses essa semana. Meu fluxo varia bastante. Há épocas, como agora, em que depois de mamar eles muitas vezes rejeitam o complemento e épocas em que tomam, após a mamada 60 ou 90 ml.

E assim seguimos. Tenho prazer em dar a eles parte do leite que precisam. Agora, sem cobranças, com prazer. Permitindo que esporadicamente eles tomem uma mamadeira com o papai, enquanto eu tiro algumas horas para levar a Sarah para passear ou faço algo por mim.

Ah, e a Sarah? Pediu para experimentar o leite dos irmãos e eu dei um pouco do que havia extraído com a bombinha, uma vez. Tinha certeza que ela não gostaria, mas achei importante fazer. Doce engano! Amou o leite e vez ou outra, me pede. E eu, sempre que posso, tiro um pouquinho que seja e dou para ela. O sorriso que ela abre, perguntando: é para mim? faz valer alguns mililitros a menos para os meninos.

Espero que essa história não tenha um final breve e que eu possa seguir nutrindo os meninos até quando for bom para eles e para mim. E espero também, que meu relato possa ajudar outras mães a aceitarem suas realidades e às que não tiverem o desfecho que esperavam, que se perdoem e que aceitem isso como a sua história, sem cobranças e julgamentos.

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