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Meu relato sobre amamentação - Parte 1

Comecei a escrever esse texto há mais de dois meses e já escrevi e reescrevi mentalmente o final deste post enquanto amamentava os gêmeos, inúmeras vezes.


A verdade é que este texto ainda não terá fim, mas achei que hoje, no dia mundial da amamentação, seria uma ótima oportunidade para falar do assunto. E o que é a amamentação, senão a primeira forma como devemos ser alimentados? Então vamos ao relato, que foi dividido em duas partes e que começa desse jeito: Eu acredito que o sucesso da amamentação depende de informação, apoio das pessoas próximas, mais informação, disponibilidade emocional e mais informação.


Vivi e tenho vivido duas experiências diferentes em vários aspectos, após as minhas duas gravidezes, mas que acho que terão desfechos semelhantes (update: ou não). Esse relato é também um desabafo, sobre um assunto que me trouxe uma certa frustração na maternidade, mas que ter vivido uma segunda experiência, independentemente do seu final, me fez rever minha sentença e perdoar a mim mesma. Porque cobrança já recebemos de todos os lados na maternidade e eu, sinceramente, quero paz interior para tentar ser uma mãe cada vez melhor, apesar de todos os meus defeitos e falhas. E quero compartilhar essas histórias com vocês, pois acredito que possa ajudar outras mães que passam por situações semelhantes.


A gravidez da Sarah não foi planejada. Eu havia acabado de voltar de uma experiência fantástica na Austrália, onde morei por três meses estudando inglês e depois viajei pelo país, pela Nova Zelândia e África do Sul com meu marido. Estava retornando ao trabalho e buscando novas oportunidades nele e por isso, não pensava em engravidar, mas aconteceu. Aconteceu e eu me senti feliz e estranha ao mesmo tempo. Levei um bom tempo para me acostumar com a ideia. Durante a gravidez, descobrimos que minha mãe estava com câncer, em estágio avançado. Vivi um período de sentimentos antagônicos. Sarah nasceu e minha mãe não pôde estar conosco naquele momento e isso me deixou muito triste e insegura.

Sarah nasceu pequena e já na sala de recuperação foi prescrito o leite artificial, pois sua glicemia estava baixa. Ela teve muita dificuldade de pegar o peito e a amamentação no começo foi marcada por episódios de tortura, para ela e para mim. Inúmeras tentativas e posições para que ela conseguisse mamar, uso de bicos de silicone, leite artificial dado no copinho, choro dela, choro meu. Muito choro. Após uma semana, procurei um banco de leite. Sim, demorei tudo isso. Estava anestesiada, sem dormir e emocionalmente abalada. Foram três visitas ao banco de leite e que muito me ajudaram. Me desfiz de todo tipo de bico artificial, diminui o espaço de tempo entre as mamadas e assim conseguimos ficar três semanas na amamentação exclusiva. Mas eu me sentia sugada, achava que ia viver para isso e por todo o contexto, não estava emocionalmente preparada para tamanha doação. Hoje, tenho consciência que vivi uma melancolia pós-parto ou um baby blue.


Sarah tomando leite artificial no copinho na maternidade. Não encontrei nenhuma foto amamentando. Eram momentos tão tensos que não lembramos de registrar.


Mesmo com todas as medidas adotadas, Sarah estava ganhando apenas 20g/dia, o que é o limite de ganho aceitável, segundo me informaram no Banco de Leite. Comecei a duvidar da minha capacidade de produzir leite e suprir as necessidades dela. E insegurança é uma das piores ciladas que minam a amamentação.

Após a consulta com o pediatra e a constatação de que ela não havia ganho o mínimo de peso desejável, fui aconselhada a complementar após a amamentação, quando sentisse necessidade. Esse foi o começo da minha desistência. Quanto mais eu complementava após as mamadas, menos ela chorava e mais certeza de que meu leite não era suficiente eu sentia. Hoje sei que a verdade é que quanto menos ela mamava, por estar tomando o leite artificial, menos eu produzia. Seguimos assim até os seis meses. Ela mamava um pouco e em seguida tomava o leite na mamadeira. Logo que comecei a Introdução Alimentar, ela percebeu que além do leite fácil que vinha na mamadeira, agora os novos alimentos também chegavam à sua boca sem esforço algum e acredito que isso foi o suficiente para ela largar o peito definitivamente. Foram dias de insistência e de recusa e choro até que desisti e encerramos ali nossa história sobre amamentação (pensava eu).

Acredito que esse foi um dos motivos que fez com que eu me empenhasse ainda mais em relação à alimentação dela, para que tivesse uma alimentação saudável e de qualidade. A maternidade e a nossa necessidade de compensar nossas falhas.


(continua)

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